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Minha Querida Lysia

 

“Minha querida Lysia. Escrevo-te a lápis, porque a Parcker está com Francis [...]”. Assim começa uma das cinco cartas de Maria escritas para essa mesma destinatária (Lysia) entre 1950 e 1954, todas enviadas durante viagens da remetente, que acompanhava o marido em compromissos profissionais. O casal hospedava-se em diferentes cidades do país, razão pela qual quatro desses documentos apresentam timbres de hotéis nos papéis e nos respectivos envelopes, dado não verbal que serve como referência à autenticidade dessas cartas.

 

O conteúdo propicia retratos do cotidiano, em especial no que concerne à vida íntima e familiar. Pretende-se, assim, apresentar tais dados a partir, primeiramente, do estabelecimento do contexto primário dos documentos, sua origem e suas características materiais, com uso de imagens, inclusive, ainda que preservada a identidade de remetente e destinatária. Uma vez estabelecida essa origem, ― dado relevante para que se aufira o grau de verossimilhança que se pode razoavelmente atribuir à fonte em questão ―, vai-se apresentar e comentar exemplos sensibilidades e sociabilidades no cotidiano de pessoas comuns colhidos nessas fontes epistolares.

 

Por tratar-se de cartas femininas, trocadas entre mulheres que mantinham laços de parentesco inclusive, os documentos sinalizam diversos aspectos ligados ao que se convencionou chamar de “assuntos femininos”, roupas, em especial, que Maria gostava de enfatizar: [...] hoje, quando fui vestir o vestido branco, quase desmaiei: ele chegava aos meus pés. Espichou, como se fosse elástico” (carta escrita nos dias 1 e 02/04/1950, Petrópolis).

 

Além disso, chama atenção o dado político que uma das cartas apresenta, a saber, comentário sobre a chegada, pelo aeroporto, de Ademar de Barros, vindo de uma visita à Europa. “Havia também autos de luxo e, por todo o trajeto, balançando ao vento, os dizeres dos estudantes, trabalhadores do povo, saudando Ademar de Barros” (carta de 12/10/1952, Santos). Com isso, pretende-se abordar a chamada escrita epistolar de pessoas comuns, seus limites e suas possibilidades como fonte histórica, em particular, no âmbito da chamada História Cultural.

Minha Querida Lysia

 

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